quinta-feira, 24 de junho de 2010

Convivendo com a solidão


Nem abri os olhos ainda, mas já ouço de longe a voz desafinada do meu priminho, cantando uma musiquinha que aprendeu na escola para a mamãe dele. Não, não é ele. É o toque do meu despertador. Uma maneira que encontrei de matar as saudades da família que mora longe e de driblar a solidão. Bem que tento resistir, dormir mais um pouco, mas as notas agudas e desafinadas chegam a incomodar. É hora de levantar. Nada de preguiça!

Os raios de sol enchem minha manhã e até me fazem companhia. Parece que quando se vive longe de pai e de mãe, depois de algum tempo, pequenos detalhes são capazes de suprir a ausência de outras pessoas. E, enquanto sento-me à mesa para o meu café, resolvo refletir sobre minha condição: sozinha em casa e, não satisfeita, solteira. Não há momento mais adequado para isso.

Primeiro passo: justifico para mim mesma que é sempre bom conviver com um irmão ou irmã, um namorado e com amigos, mas que, em alguns espaços bem pequenos de tempo, a solidão é bem vinda. Há momentos na vida em que você aprende a viver consigo mesma. E não é difícil perceber quando isso acontece. A gente passa a valorizar cada minuto, sabendo retirar dele as lições que a vida nos oferece e aproveitá-lo da maneira que consideramos a melhor possível. Mas, aprendemos também a valorizar pequenos detalhes dia-a-dia. Descobrimos o quanto o abraço de um amigo é importante e nos revigora. Valorizamos o pouco tempo que passamos ao lado dos nossos irmãos e da nossa família. Passamos a escutar com mais cuidado e atenção cada conselho que nos é dado.

Mas, nem fui para o passo seguinte, já começo a me lembrar que não existe amor de pai, mãe, irmãos ou amigos que se iguale ao amor de um amante. Estar apaixonado, amar alguém especial é viver intensamente, é fazer besteiras sem pensar, é errar sem medo, é falar sem ter receio de ser criticado pelo outro, é não ter vergonha de ser você mesmo.

Por mais que muitas pessoas se justifiquem e digam que estar solteiro é bom, nada como ter alguém para quem possamos ligar a qualquer hora, nem que seja para ouvir a voz por uns instantes. Ou, até mesmo, passar horas ao telefone divagando sobre qualquer assunto. Nessa ocasião, até a complexidade da Física Quântica torna-se um assunto fácil e interessante para se discutir. Sentimo-nos mais sensíveis e, como diria o cantor Zeca Baleiro, qualquer beijo de novela nos faz chorar.

Ai, o amor... Sentimento que nos faz transcender, ir além de qualquer expectativa. Às vezes, temos a impressão de estar ouvindo música, mas não é só impressão. O celular está, de fato, tocando. Não acredito! Perdi a hora e estou atrasada para ir trabalhar. Quem sabe se divagando não encontro pelo caminho um novo amor?

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